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Até a publicação desta reportagem, em julho de 2020, nada foi mais impactante do que o novo coronavírus. O rápido contágio e o crescimento no número de óbitos fez com que eventos fossem cancelados e viagens proibidas. A doença mudou a rotina de toda a população mundial, afetando assim a Olimpíada, prevista para começar em 24 de julho, e, consequentemente, o rugby.

Funcionários do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) já trabalhavam em home office quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, em 11 de março, que a situação enfrentada, por conta da Covid-19, caracterizava-se como pandemia. No dia 21 daquele mês, o próprio COB afirmou seu posicionamento favorável ao adiamento dos jogos.

“A posição do COB se dá por conta do notório agravamento da pandemia, que já infectou 250 mil pessoas em todo o mundo, e pela consequente dificuldade dos atletas de manterem seu melhor nível competitivo pela necessidade de paralisação dos treinos e competições em escala global. [...] Desde o início da pandemia, o COB tem priorizado a saúde e o bem-estar dos atletas brasileiros e colaboradores do Comitê. Há uma semana, a entidade cancelou eventos públicos e preparatórios para os Jogos e determinou o fechamento total do CT Time Brasil”, afirma a nota oficial.

No dia 24 de março, o Comitê Olímpico Internacional (COI), o governo japonês e o Comitê Organizador Tóquio 2020 se reuniram. Desse encontro surgiram as definições do adiamento dos Jogos Olímpicos e a permanência do ano “2020” no nome oficial. A nova data para realização do evento foi divulgada seis dias depois: entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021.

Com a suspensão da competição e a paralisação das atividades, jogadores, comissão técnica e demais funcionários precisaram se adequar a uma nova rotina. Desde 16 de março, os atletas do Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) iniciaram os treinos em suas próprias casas. Isolados, o objetivo agora é conseguir treinar e manter o condicionamento num espaço limitado, pensando nas importantes competições que as duas seleções terão pela frente. Antes, as Yaras treinavam em ritmo de preparação para os Jogos Olímpicos, enquanto os Tupis para a disputa da última vaga, no Pré-Olímpico.

Rafaela de Conti Zanellato (20) pratica rugby há cinco anos. Em 2019, recebeu o seu primeiro prêmio como melhor do Brasil pelo COB. Atualmente, ela é atleta do Curitiba e da Seleção Brasileira. Com a paralisação dos treinos, Rafaela afirma que a intensidade já não é a mesma. Antes, ela tinha toda uma estrutura, equipamentos e profissionais especializados para ajudá-la. Agora, existe a necessidade de estar ainda mais atenta aos próprios limites.

Daniel Sancery (26) também sentiu essa diferença. O jogador, com 18 anos de experiência, explica que não é possível reproduzir em casa a mesma eficácia do treino coletivo. Contudo, ele ressalta a importância dos treinos para que todos estejam capacitados ao retorno.

“Essa pandemia mudou muita coisa, porque a nossa vida de atleta é toda programada para as competições. Se temos competição semana que vem, já sabemos que temos que nos preparar para chegar bem. Como todas as competições foram canceladas, por enquanto, não sabemos de nada e pra gente é muito frustrante”, afirma.

As primeiras semanas em casa foram de adaptação. Cada atleta foi treinando como podia, com equipamentos de academia emprestados para manter o mínimo de ritmo possível. Enquanto isso, preparador físico, médico e fisioterapeuta da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) organizaram uma planilha com as necessidades de cada atleta.

A partir disso, de segunda a sexta-feira, às 9h, eles se reúnem, por chamada de vídeo, para fazer um aquecimento, com alongamentos, exercícios de flexibilidade e mobilidade, e fortalecimento dos músculos. Depois, cada um tem seu treino específico adequado a sua realidade. “É tipo home office, só que não estamos atrás do computador. Temos que correr, tentar manter o corpo ativo, e cuidar das lesões”, explica Sancery.

O jogador da seleção e do Corinthians conta que, uma vez por semana, no período da tarde, os atletas e técnico têm uma reunião para conversar sobre rugby. Ele destaca que essa proximidade, mesmo on-line, é importante para que eles não se sintam sozinhos durante o isolamento. Esse contato é realizado igualmente com as Yaras. Todos os dias, os atletas preenchem um formulário de monitoramento para informarem peso e se tiveram algum sinal prejudicial à saúde nas últimas horas.

Mesmo sem data para retorno das competições, o coordenador de treinadores da CBRu, Fernando Portugal, reforça a necessidade de uma preparação consciente. “O mais importante agora não é melhorar o desempenho a qualquer custo, mas adaptar os treinos para manter os atletas mental e emocionalmente saudáveis”, afirma.

Quem se mantém positiva é Rafaela Zanellato. Segundo a atleta, o rendimento caiu, mas ela acredita que, voltando aos poucos, mesmo com adaptações, é possível alcançar o que tinham antes e estarem bem preparadas para os jogos da Olimpíada e demais competições. “Estávamos num período onde a gente vinha de muitos campeonatos, então, acho que também foi muito bom para poder se recuperar e conseguir retomar a energia.”

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Rafaela Zanellato (com a bola) em jogo contra a Austrália pela World Rugby Sevens Series, em janeiro de 2020. Foto: Mike Lee - KLC fotos for World Rugby

Vai ficar para depois

Até aqui, você já viu que a Olimpíada de Tóquio foi adiada para 2021. Além do evento multiesportivo, outras competições envolvendo o rugby ganharam novas datas ou tiveram a edição cancelada. Algumas até pararam, mas já conseguiram retomar os jogos.

Confira os principais eventos nacionais e internacionais de rugby que foram afetados pela pandemia.

Pré-Olímpico

Faltam apenas duas equipes no feminino e uma no masculino para fechar os classificados da próxima Olimpíada. As Yaras já estão garantidas na competição. Os Tupis, disputam a última vaga. O Pré-Olímpico estava programado para acontecer no Chile, nos dias 20 e 21 de junho de 2020. Contudo, o evento foi suspenso e não foi reagendado até o momento.

World Rugby Sevens Series (WRSS)

O circuito mundial acontece anualmente e é dividido em etapas. No masculino são dez, enquanto no feminino oito. A competição entre os homens foi até março, na sexta fase da temporada, em Vancouver, Canadá. No feminino, a cidade de Sydney, na Austrália, foi a última cidade a abrigar os jogos, em fevereiro, contemplando a quinta etapa.

No dia 30 de junho, a World Rugby oficializou o cancelamento da edição paralisada. Dessa forma, as equipes feminina e masculina da Nova Zelândia foram premiadas com o título da temporada. Ambas estavam no topo da tabela de classificação do torneio até o momento de suspensão da competição.

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Jogadores da Nova Zelândia performam o haka após a vitória contra a Austrália. O jogo aconteceu em março, o último da competição em 2020. Foto: Mike Lee - KLC fotos for World Rugby

Six Nations

O Six Nations é uma competição de rugby XV disputada anualmente entre fevereiro e março. Os países participantes, tanto no feminino, quanto no masculino, são Escócia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália e País de Gales. A primeira suspensão aconteceu ainda em fevereiro, enquanto a Itália registrava um rápido contágio de Covid-19.

Por isso, as autoridades italianas resolveram suspender os eventos esportivos no dia 23 de fevereiro, coincidindo com a partida da terceira fase do Women's Six Nations entre Itália x Escócia, marcado para ser realizado em Roma. Em março, apenas País de Gales e França jogaram a quarta rodada. Escócia x França foi adiada após uma atleta escocesa testar positivo para o vírus.

No masculino, a partida entre Irlanda e Itália, marcada para 7 de março, em Roma, foi também suspensa pelo avanço da doença no país. Posteriormente, todos os jogos da quinta e última fase dos campeonatos foram adiados sem uma data de retorno oficializada.

Eliminatórias da Copa do Mundo de Rugby XV feminina

A Copa do Mundo de Rugby XV feminina acontecerá em 2021, na Nova Zelândia. Porém, ainda restam três vagas para definir as 12 equipes participantes. Com a crise do novo coronavírus, as eliminatórias, anteriormente marcadas para setembro, estão sem datas previstas.

Super Rugby

O Super Rugby é um campeonato de rugby XV masculino disputado por 15 times provenientes da Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Japão e África do Sul, entre fevereiro e agosto. Por demandar viagens transcontinentais, os jogos foram extremamente afetados, sofrendo o cancelamento da competição em março.

No entanto, os neozelandeses cumpriram rigorosas semanas de isolamento, resultando em um controle maior dos casos de infectados pela Covid-19. Assim, o governo autorizou a volta de eventos com público. Com a inviabilidade de reunir as outras equipes, foi criado o Super Rugby Aotearoa, formado pelos cinco times profissionais da Nova Zelândia. A competição teve seu primeiro jogo no dia 13 de junho.

A primeira partida do Super Rugby Aotearoa foi entre Highlanders e Chiefs com presença de público

A Austrália também já organizou e oficializou o seu retorno. Cinco times participam do Super Rugby AU, iniciado em 3 de julho. Os demais times ainda não possuem data para voltar à competição, colocando o futuro do formato do Super Rugby em xeque.

Americas Rugby Championship (ARC)

A principal competição de rugby XV masculino das Américas, formado por Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Canadá e Estados Unidos, também sofreu alterações. Normalmente, disputado no primeiro semestre desde sua primeira edição, em 2016, o calendário de jogos de 2020 foi inicialmente adiado para 15 de agosto. Entretanto, a data será alterada mais uma vez, com a possibilidade de não ocorrer neste ano.

Superliga Americana de Rugby (SLAR)

A Superliga Americana de Rugby, formada por franquias de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai, é um campeonato novo de rugby XV masculino, que teve sua estreia em março de 2020. No dia 13 daquele mês, a partida do Corinthians, representante brasileiro, foi suspensa. Quatro dias depois, a SLAR foi oficialmente cancelada, com previsão de retorno para 2021.

Campeonato Brasileiro de Rugby XV

No dia 28 de maio, a CBRu anunciou o cancelamento da edição 2020 do Campeonato Brasileiro Masculino de Rugby XV. Ao todo, participariam 12 equipes de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A competição feminina não existe até o momento.

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